Penso, logo existo. Acho interessante essa frase. Mas não de todo completa. Penso, logo escrevo. E ao escrever, reitero minha existência. Pronto. Agora sim podemos começar.
Cá estou eu nessa noite quente, levemente embriagado pela bebida, altamente embriagado por pensamentos e palavras. E antes que uma possível amnésia alcoólica me ataque e amanhã pela manhã não me lembre de muitas coisas que me passam pela cabeça hoje, me sento nessa cadeira de perna manca, diante dessa folha de papel amassado sobre a mesa de tampo gasto, com uma caneta que cuja tinta começa a falhar, e busco algo que pelo menos seja conexo para escrever (afinal, não é pra isso que estou aqui?). Realmente, minha mente está uma bagunça. Hora de começar a arrumá-la.
O que eu vejo quando olho no espelho? Melhor, o que eu vejo quando olho o mundo à minha volta? Medo. Sim, essa é a era do medo. Muito me faz rir o fato que, aos nos vangloriarmos do atual “nível de racionalidade e conhecimento” que chegamos, ao mesmo tempo ressuscitamos fantasmas e demônios de séculos atrás. Bruxas, fantasmas... medo do escuro. Bem vindo de volta à Idade Média! 2012 está chegando, o fim do mundo (mesmo que esse não seja em 2012) está chegando! Corra para igreja mais próxima buscando cegamente a salvação da sua alma; ou então corra para o laboratório mais próximo e crie fórmulas e teorias científicas para clonar, viajar para o espaço, ou então descobrir a cura de todas as doenças, quem sabe até mesmo conseguir se manter sempre jovem, conseguir viver para sempre! Ambos os extremos se criticam, se enfrentam, se confrontam, cada um com sua verdade absoluta, ambos com o mesmo objetivo. O resumo de tudo isso? MEDO. Fuga. Pura e simples.
Vamos parar para pensar. Há quanto tempo o “mundo” existe? E isso considerando que “tempo” é só mais uma das convenções do ser humano. Você já parou para olhar o céu a noite e, ao enxergar aqueles infinitos pontos que chamamos de estrelas, chegou a compreender a amplitude da existência? Não da existência humana, mas da existência do “tudo”? Sério, parando pra pensar, dentro desse tudo, o que sou eu? Dentro de toda cadeia cósmica, cujo alcance foge à compreensão de qualquer homem ou mulher que já tenha caminhado por sob essa atmosfera, qual é meu papel? Seria eu tão importante assim? Seria eu um ser merecedor o suficiente da “vida eterna”?
Mas ao mesmo tempo, não sou eu um universo particular? Não mantenho dentro de mim uma infinidade de vidas, microcosmos ou existências sobre as quais não exerço o mínimo controle ou mesmo não faço a mínima idéia de sua existência? É uma cadeia de existência infinita de infinitas cadeias, uma trama tão complexa que não acho que seja possível englobar tudo em uma coisa única e se ter uma compreensão total. E se existir um nome, uma única palavra que definisse todo esse indefinível, sabe qual seria? Deus. Cada partícula que se movimenta dentro desta totalidade infinita faz parte de Deus. Cada ser que respira, pedra que rola, estrela que se apaga ou estrela que se acende. Cada evento, por maior ou menor que seja, é uma prova da existência de algo muito além do nosso alcance ou conhecimento. Deus. Também pura e simples assim.
Ok, hora de parar de viajar no espaço e voltar os olhos para o espelho. E aí? O que eu enxergo? O que eu sou ou o que eu quero ver? Somos confusos por natureza. Covardes por natureza. Carentes por natureza. O ser humano se vale de palavras tão belas, para no fim sempre escolher o caminho mais cômodo, mais seguro.
Cada pessoa tem sua gama de experiências durante a vida. E o peso de cada uma dessas experiências é muito particular. O que é uma coisa boba para mim pode ser um fardo dolorido para você. Só que daí vem a pergunta: de que serviram essas experiências para você? Ora, depois de 25 anos vividos acredito que tenho minha pequena parcela de fatos marcantes. Sofri? E como. Sorri? Mil vezes mais do que sofri. E cada sofrimento, cada sorriso me fez o que sou hoje. E vai me fazendo o que serei amanhã.
Hoje não me preocupo se o mundo vai acabar. Se estou ficando velho. Se vou morrer. Quando eu vou morrer. Lembra da parte de olhar para o céu? Tudo é um fluxo. E nada mais somos do que uma parte desse fluxo. Não temos o direito de querer quebrá-lo. Não somos bons ao ponto de estarmos aqui além do tempo que merecemos estar. Então o que fazer?
Viver. Enfrentar seus medos. Aceitar quem você é. Aceitar que nem tudo na vida é da forma que queremos. Enxergar que mesmo na derrota, existe a vitória de ter tentado vencer. É ir pelo caminho mais difícil, cair, sentir o gosto da lama, se levantar e caminhar novamente, melhor e mais forte. É não escolher o caminho mais cômodo por medo de se machucar. É amar sem medida, dar o seu melhor. É olhar para aquela pessoa e fazer ela se sentir especial, mostrar a ela o quão rica ela é, o quão misteriosa e fascinante ela é, e que você está disposto a decifrá-la. É aceitar que essa mesma pessoa não te dê o merecido valor, mas ficar bem consigo mesmo porque pelo menos você fez valer a pena. É ter amor próprio para dizer não, para se fazer merecer, para não cair na primeira promessa de amor eterno, saber quando é verdade e quando é mentira, saber esperar para dar o seu melhor a quem merece seu melhor. É não namorar por namorar, porque se é para namorar, que se namore, que se morra de amor e que fique suspirando pelos cantos, sorrindo como um idiota sozinho apenas por lembrar daquela pessoa. É não olhar pra longe, quando muitas vezes o que se procura está bem do seu lado e você teima em não enxergar. É fazer valer a pena.
Hoje não me preocupo se o mundo vai acabar. Se estou ficando velho. Se vou morrer. Quando eu vou morrer. Sabe qual minha única preocupação hoje? É estar bem, tranqüilo e realizado comigo mesmo. É, quando o momento da minha morte chegar, quando minha parte nesse fluxo se encerrar e nos momentos finais refletir sobre a vida, me perguntar: valeu a pena?
Não realizei um décimo das coisas que eu quero realizar. Não amei um décimo do que tenho para amar. Não fui amado um centésimo do que mereço. Não conheci um milésimo das pessoas que quero conhecer, dos lugares que quero ir. E se eu morresse hoje? E se hoje eu tivesse de me perguntar: valeu a pena?
A resposta? Apenas pelo que eu fiz, vi e vivi até agora. A resposta é sim. Valeu a pena. E valeu a pena pra caralho.
falou tudo johnny \o a complexidade da vida e do mundo e algo que poucas pessoas dão prioridade e vc soube representa-la magnificamente com esse texto
ResponderExcluiré... redescobrindo a vida, o universo e tudo mais.
ResponderExcluirsão momentos assim que costumo dizer que o universo dá um cruzado de direita (no melhor estilo Pedreiro-Jutsu) em nossas mentes... é vislumbrar o improvavel e viver pra contar a história.