quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

ESPÍRITO NATALINO E LEI DE MURPHY (OU A TEORIA DA RENOVAÇÃO COM CHEIRO DE NAFTALINA)

E chegamos no fim de mais um ciclo anual. E parece que, quanto mais velho vou ficando, mais rápido o tempo passa. Quantas saudades sinto do tempo de criança, onde o ano parecia demoraaaar pra terminar. Janeiro vem chegando, e junto com ele mais um aniversário. Com 25 anos, ja coleciono alguns fios de cabelo branco dentre os meus fios castanhos. E já não me surpreendo muito quando dou de cara com um desses fios brancos pela manhã em uma área do cabelo que até ontem eu jurava estar tudo normal. Já estou conformado. Estou ficando velho.
Mas isso não é nada demais. Não chega a ser uma coisa ruim. Não compartilho deste medo contemporâneo da velhice e da morte. Não cultuo a beleza eterna, nem me preocupo com quanto tempo resta até a primeira plástica, o primeiro botox (sim mulheres, mesmo que os homens relutem em admitir isso, essas preocupações estão cada vez mais corriqueiras no nosso fechado e "imutável" universo machista), ou a primeira aplicação de Grecin 2000 na cabeleira branca (até hoje tento entender aquela propaganda. Quem diabos pinta o cabelo grisalho pra pegar a Vera Fischer?). A vida é um ciclo. Constante renovação, até o momento que este ciclo se quebra e morremos. Aí se começa outro ciclo ou não, já é outra história. Quer viver plenamente? Hora de pensar em respeitar e curtir esse ciclo.
Uma das coisas que não canso de discutir, até mesmo devido ao fato desse assunto sempre me fornecer novos objetos de estudo é a constante contradição socio-cultural que o ser humano fez o favor de se atolar até o pescoço. Ok, eu sei que desde que o ser humano é o ser humano ele é, por natureza, contraditório. Mas acho que nunca essa batalha do homem consigo mesmo se fez tão visivel ou modificou o próprio ser humano ou o meio que ele vive. Na verdade, pensando melhor, podem ser pontuados vários momentos que essa contradição se fez presente dentro do que chamamos de "História". Talvez a minha visão tão exacerbada acerca da contemporaneidade deste conflito venha da minha proximidade, da minha vivência com o objeto. O passado, por mais que seja característico ou marcante, é o passado. Estamos afastados dele. E talvez por isso, por não haver essa carga direta de envolvimento emocional possamos estudá-lo com mais "imparcialidade". Coisas que a historiografia explica.
Voltando ao assunto principal, ao mesmo tempo que tentamos desesperadamente manter a eterna juventude, sempre parecermos os mesmos que éramos há 10, 15 anos atrás, vivemos um desapego enorme com qualquer coisa que pareça velha ou repetida. Roupa, carro, casa, namorada (o). A mesma cara, o mesmo corpo, mas de resto tudo diferente, tudo em constante mudança, em constante renovação. Sou só eu que acho isso ou realmente é uma bagunça? Cara velha, roupa nova. De forma alguma aquele vestido, sapato ou carro combina com essa ruguinha que teimou em aparecer no canto do seu olho. De forma alguma. O carro ou a roupa nova combina com seu rosto, com seu corpo antigo.
E qual seria a solução então. A minha solução pessoal eu já encontrei. Meio termo. Ohhhhh, grande coisa isso. Certo, não é nenhuma novidade, mas é facil conseguir encontrar esse meio-termo? Numa sociedade extremista como a nossa (para ambos os extremos), com certeza não. Na verdade nossa natureza incomodada não se contenta com nada. Morremos de medo de mudanças, mas tememos em grau igual qualquer laço que crie raízes.
Temos de mudar sim, temos que manter sempre um espírito de renovação sim, mas também temos que manter aquelas coisas que podem ser velhas, mas nos são queridas. Por mais aventureira que seja a andorinha, hora ou outra ela precisa voltar para o ninho. E talvez nem seja por necessidade, mas por saudade (quanta pieguice). Liberdade é escolher aquilo no que você vai se prender.
Até o fato de estar ficando velho é algo novo. A cada dia novos processos de mundança (física, emocional, social, ou em qualquer outro campo) começam. Mas, ali no fundo, sempre permanece algo. E é esse algo que, ao se acumular, vai moldando quem você é. Mudança na permanência e permanência na mudança. Como lidar com isso? Meio termo.
Faça como a Rede Globo. Todo ano em dezembro somos agraciados com aquela musiquinha hipnótica "Hoje, é um novo dia, um novo tempo, que começou...". Esse ano resolveram inovar. Misturaram um rap/tecno/trance no ritmo da música que ninguém entendeu o que virou. Mas a música continua a mesma. Assim como um novo natal chega com o mesmo espírito natalino, as mesmas falsas cordialidades e falsas caridades. A festa vai ser a mesma, com a mesma ceia, o mesmo perú, o mesmo amigo secreto em família e aquela mesma tia que tirou seu nome no ano passado vai te presentear novamente com aquela maldita camiseta gola-pólo bege. Mas quando chegar o natal que não tiver esse mais do mesmo, você vai sentir falta.
Ano novo, as mesmas promessas. Tudo pode ser novo, mas com cheirinho de naftalina.

Meio termo.

Ps.: A Lei de Murphy do título se deve a alguns fatos que ocorreram nos últimos dias. VocÊ planeja cuidadosa e meticulosamente uma coisa e, às vésperas dela acontecer, dá errado. Duas vezes. Isso realmente me desanimou. Vou empurrar com a barriga esses 20 dias que restam. Planos, animação de verdade? Guardo para 2010. Comodismo não faz meu estilo, mas estou me dando esse direito por alguns dias. Resquícios da minha fase mau-humorada.




quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

INÉRCIA PRÓ-ATIVA

Me considero um cara bem humorado. Às vezes até demais. Me considero um cara animado. Às vezes até demais. É tão bom viver discursando (principalmente pra você mesmo, mas também muitas vezes para outras pessoas) que você vive cada dia intensamente, como se fosse o último, que cada momento leva à última potência seu ser e utiliza até a última gota de sua energia vital. E talvez, em muitos momentos, você realmente viva assim. Mas já ouviu aquele velho ditado: "Quanto maior a árvore, maior a queda", ou algo do tipo. Bem, nem sei se o ditado é desse jeito mesmo, mas o que vale é a idéia. Então, da mesma forma, quanto mais engraçada ou bem humorada é uma pessoa, mais chata ela vai ficar quando estiver de saco cheio. E quanto mais animada, pronta-pra-tudo-que-você-chamar, vambora-só-se-for-agora ela for, mais ela vai ficar enclausurada em um tipo de solidão e isolamento que muitas vezes nem ela mesma entende (imagens mentais: urso hibernando na caverna, caramujo escondido dentro de sua casca, etc., etc.). Não considero minha pessoa, ou mesmo minha postura de vida certa ou errada. Apenas diferente. Me recuso a compartilhar dessas idéias esdrúxulas de sociedade que  temos hoje. Me recuso a ser apenas mais um dentro da massa. Mas também sou humano. E querendo ou não, volta e meia sou tragado pelo grande vazio que é o mundo., o mundo chamado "homem" .Volta e meia fico sem saco pra ligar pra amigos, fazer coisas diferentes, não fico tão feliz ou tão intenso quanto o discurso sugere.Fico apenas envolvido naquela rotina, vendo as mesmas pessoas e apertando as mesmas teclas do teclado, olhando para a mesma tela do monitor. Ok, vou parar por aqui. Chega de chatice por hoje. Vim apenas dar uma varrida do pó que se acumulou no meu esquecido blog. Quem sabe no próximo post isso aqui se pareça menos como um bloco de anotações de um psiquiatra que acabou de atender um paciente sofrendo de depressão e volte a soar mais como o Circo do Bozo.

Até qualquer dia desses.